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Jair Bolsonaro Pede Desculpas a Alexandre de Moraes em Julgamento no STF e o Chama de “Meu Ministro”

Em um momento marcante no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma cena que surpreendeu a muitos durante seu depoimento no julgamento relacionado à suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. Frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, Bolsonaro não apenas pediu desculpas por declarações passadas, mas também se referiu ao magistrado como “meu ministro”, em um tom que mesclou deferência e tentativa de amenizar tensões históricas entre ambos.

O episódio ocorreu durante a sessão da Primeira Turma do STF, transmitida ao vivo pela TV Justiça, que analisava a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outros sete investigados por supostamente planejarem ações para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022. A relação entre Bolsonaro e Moraes, marcada por anos de embates públicos, foi colocada à prova nesse confronto direto, o primeiro televisionado entre os dois.

O Pedido de Desculpas

No início do interrogatório, Moraes questionou Bolsonaro sobre declarações feitas em uma reunião ministerial de julho de 2022, quando o então presidente insinuou, sem provas, que Moraes e outros ministros do STF, como Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, poderiam estar envolvidos em irregularidades financeiras durante o processo eleitoral. Na ocasião, Bolsonaro sugeriu que os magistrados teriam recebido milhões de dólares, em um discurso que ele próprio classificou como “desabafo” durante o julgamento.

Diante da cobrança do ministro, Bolsonaro adotou um tom conciliador. “Era uma reunião que não era para ser gravada. Não tinha indícios nenhum, senhor ministro. Me desculpe, não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores três”, afirmou o ex-presidente, visivelmente buscando apaziguar o clima. Ele justificou as críticas como parte de sua retórica acalorada e reiterou que não possuía provas para sustentar as acusações.

O pedido de desculpas foi recebido com atenção pela Corte e pela imprensa, sendo interpretado por alguns como uma estratégia de defesa para suavizar sua posição no julgamento. Para outros, representou um raro momento de retratação pública de Bolsonaro, conhecido por seu estilo combativo e por raramente recuar em suas declarações.

“Meu Ministro”: Um Gesto Inusitado

O ponto alto do depoimento veio quando Bolsonaro, em um momento de descontração, referiu-se a Alexandre de Moraes como “meu ministro”. A expressão, dita em tom quase amigável, surpreendeu os presentes e gerou reações variadas. Para alguns observadores, o termo foi uma tentativa de Bolsonaro de demonstrar respeito à autoridade do magistrado, reconhecendo sua posição no STF. Para outros, tratou-se de uma manobra retórica, carregada de ironia ou mesmo de uma tentativa de estabelecer uma conexão pessoal em um contexto adverso.

A interação entre os dois, que já protagonizaram episódios de forte antagonismo, incluiu até um breve momento de leveza. Bolsonaro chegou a propor, em tom de brincadeira, convidar Moraes para ser seu vice em uma eventual candidatura em 2026, ao que o ministro respondeu, bem-humorado, com um “Eu declino”. Esses instantes de distensão, porém, não ofuscaram a gravidade do julgamento, que trata de acusações sérias contra o ex-presidente.

Contexto do Julgamento

O depoimento de Bolsonaro faz parte do processo que investiga a chamada “trama golpista”, um suposto plano articulado por ele e aliados para desestabilizar as instituições democráticas e impedir a transição de poder após sua derrota nas urnas. A PGR aponta Bolsonaro como líder de uma organização criminosa que teria mobilizado militares, políticos e civis para questionar a legitimidade do processo eleitoral, atacar o sistema de urnas eletrônicas e planejar ações como a decretação de um golpe de Estado.

Durante o interrogatório, Bolsonaro negou qualquer intenção golpista, afirmando que sempre agiu “dentro das quatro linhas da Constituição”. Ele reiterou críticas ao sistema eleitoral, mas destacou que seu objetivo era apenas “aprimorar” o processo, citando exemplos de países como Paraguai e Venezuela, que utilizam sistemas de votação com voto impresso. Moraes, por sua vez, manteve o tom firme, questionando o ex-presidente sobre reuniões com comandantes militares, minutas de golpe e o papel de aliados como a deputada Carla Zambelli, que teria levado um hacker para discutir fraudes eleitorais.

Repercussão e Implicações

O gesto de Bolsonaro ao pedir desculpas e chamar Moraes de “meu ministro” gerou intenso debate nas redes sociais e na imprensa. Para apoiadores do ex-presidente, a retratação foi vista como uma demonstração de humildade ou uma jogada estratégica para evitar consequências mais graves no julgamento. Já críticos interpretaram o episódio como um sinal de fraqueza, apontando que Bolsonaro, acuado pelas investigações, buscou adotar uma postura menos confrontacional.

No âmbito jurídico, o pedido de desculpas pode ter impacto limitado, já que o STF avalia provas robustas apresentadas pela PGR, incluindo mensagens, depoimentos de delatores como Mauro Cid e documentos que indicam a existência de um plano golpista. A decisão sobre tornar Bolsonaro réu ou não dependerá do voto dos demais ministros da Primeira Turma, composta por Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux, além de Moraes.

Um Capítulo na Trajetória de Bolsonaro

O depoimento de Jair Bolsonaro no STF, com seu pedido de desculpas e a referência a Alexandre de Moraes como “meu ministro”, adiciona um novo capítulo à sua complexa relação com o Judiciário. Figura central na política brasileira, Bolsonaro enfrenta um momento delicado, com múltiplos inquéritos em andamento e a inelegibilidade até 2030. Sua tentativa de apaziguar tensões com Moraes, um dos principais alvos de suas críticas no passado, reflete tanto os desafios de sua defesa quanto a busca por reposicionamento em um cenário político adverso.

Enquanto o julgamento segue, o Brasil acompanha de perto os desdobramentos de um caso que pode redefinir o futuro político do ex-presidente e testar os limites da democracia brasileira. O gesto de Bolsonaro, embora simbólico, não apaga as profundas divisões que marcam sua trajetória, mas sinaliza uma mudança, ainda que momentânea, em sua abordagem diante do STF.