Mistério em Interlagos: O Laudo da Morte do Empresário Adalberto Júnior

A morte do empresário Adalberto Amarilio Júnior, de 36 anos, encontrado sem vida em um buraco de uma obra no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, no dia 3 de junho de 2025, continua a intrigar autoridades e a sociedade. Os laudos periciais divulgados pela Polícia Técnico-Científica trouxeram novos elementos ao caso, mas também levantaram mais perguntas do que respostas, especialmente em relação à possibilidade de Adalberto ter mantido relações sexuais antes de sua morte.
O Contexto do Crime
Adalberto, dono da rede Óticas Angela, com unidades em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, era conhecido por sua paixão por motocicletas, um hobby que compartilhava com sua esposa, Fernanda Dândalo. No dia 30 de maio, ele participou de um evento de motocicletas no Autódromo de Interlagos, acompanhado de um amigo, Rafael Aliste. Câmeras de segurança registraram sua chegada ao local por volta das 12h30, vestido com boné, camiseta preta, calça jeans e botas. Após interagir com amigos, assistir a corridas e a um show, Adalberto enviou uma mensagem à esposa por volta das 20h, informando que iria a uma corrida de motocross e, em seguida, voltaria para casa. Ele foi visto pela última vez às 21h15, quando se despediu de Rafael, dizendo que iria buscar seu carro no estacionamento do kartódromo anexo. Depois disso, desapareceu.
Quatro dias depois, seu corpo foi encontrado em um buraco de 2 metros de profundidade e 40 cm de diâmetro, próximo ao portão 9 do autódromo. Ele estava sem calça, sem sapatos e ainda usava um capacete, o que dificultou a identificação inicial. A ausência de pertences roubados, como celular, carteira e carro, descartou a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte). A investigação, conduzida pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), passou a tratar o caso como homicídio após os laudos confirmarem a causa da morte: asfixia violenta.
O Laudo e a Hipótese de Relações Sexuais
Um dos pontos mais discutidos do caso é o laudo que analisou a presença de Antígeno Prostático Específico (PSA), uma proteína produzida pela próstata e encontrada no sêmen. O exame, realizado no corpo de Adalberto, detectou PSA em sua região genital, o que inicialmente levou à especulação de que o empresário poderia ter mantido relações sexuais pouco antes de sua morte. Essa possibilidade ganhou destaque devido ao fato de o corpo ter sido encontrado sem calça e sem sapatos, sugerindo, segundo a polícia, um possível componente sexual na motivação do crime.
No entanto, a interpretação do resultado do PSA é complexa. Autoridades esclareceram que a presença da proteína não confirma, necessariamente, que Adalberto teve relações sexuais. Em casos de asfixia, é possível que ocorra a liberação involuntária de fluidos corporais, incluindo sêmen, o que poderia explicar o achado. Além disso, exames complementares não encontraram espermatozoides nas cavidades oral e anal do empresário, afastando a hipótese de violência sexual. Peritos estão tentando extrair DNA do material encontrado, que pode pertencer ao próprio Adalberto ou, eventualmente, a outra pessoa, o que poderia abrir uma nova linha de investigação e apontar um suspeito.
Asfixia e Outros Detalhes do Laudo
Os laudos necroscópicos confirmaram que Adalberto morreu por asfixia, possivelmente causada por constrição torácica (pressão intensa no tórax) ou por compressão no pescoço, como em um golpe de mata-leão. Escoriações no pescoço e uma lesão no joelho, causada enquanto a vítima ainda estava viva, reforçam a suspeita de que o empresário foi vítima de um confronto físico antes de ser colocado no buraco. A investigação acredita que ele estava inconsciente, mas possivelmente vivo, quando foi jogado no local, e a morte teria sido lenta e agonizante, com lesões pulmonares indicando hipoxemia (falta de oxigênio no sangue).
Outro ponto intrigante é o laudo toxicológico, que não detectou álcool, drogas, medicamentos ou outras substâncias no sangue de Adalberto. Isso contradiz o depoimento de Rafael Aliste, que afirmou que ambos consumiram cerveja e maconha durante o evento, com Adalberto ficando “mais agitado que o normal”. A ausência dessas substâncias pode ser explicada pelo intervalo de tempo entre a morte, estimada entre 36 e 48 horas antes da descoberta do corpo, e a realização dos exames, que pode ter comprometido a detecção.
Manchas de Sangue e Novas Pistas
A perícia no carro de Adalberto, estacionado em uma área proibida do kartódromo, revelou manchas de sangue humano no assoalho traseiro, ao lado da porta e no banco de trás. Um laudo parcial de DNA confirmou que o sangue pertence ao empresário e a uma mulher ainda não identificada. Amostras do DNA de Fernanda Dândalo, esposa de Adalberto, foram enviadas para comparação, mas a hipótese de envolvimento de uma suposta amante foi descartada. A origem desse sangue feminino é um dos mistérios pendentes, já que o corpo de Adalberto não apresentava ferimentos aparentes que justificassem as manchas.
Linhas de Investigação
A polícia concentra esforços em apurar o envolvimento de seguranças, manobristas e frequentadores do evento. A suspeita de que um segurança possa ter aplicado um golpe de mata-leão ganhou força, especialmente porque cerca de 200 seguranças trabalhavam no evento. Rafael Aliste, embora tenha apresentado contradições em seus depoimentos, é tratado como testemunha, não como suspeito, e tem colaborado com as autoridades. A investigação também analisa o celular de Adalberto em busca de pistas sobre seus últimos contatos e atividades.
Um Caso sem Respostas
A morte de Adalberto Júnior permanece envolta em mistério. A presença de PSA, inicialmente interpretada como indício de atividade sexual, pode ser apenas uma consequência fisiológica da asfixia. As lesões no joelho e no pescoço, o sangue no carro e a ausência de substâncias no organismo do empresário apontam para um crime violento, possivelmente premeditado, mas a falta de informações sobre o momento exato da morte e os envolvidos mantém o caso em aberto. A Polícia Civil, agora sob sigilo judicial, continua buscando respostas para esclarecer o que aconteceu naquela noite fatídica em Interlagos, enquanto a família e amigos de Adalberto, descrito como uma pessoa gentil e apaixonada por velocidade, aguardam justiça.