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Após ser acusado de negligência pela morte de Juliana Marins, o presidente da Indonésia vem ao Brasil p… Ver mais

Presidente da Indonésia enfrenta tensão no Brasil para cúpula do BRICS após caso Juliana Marins

O presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, está prestes a desembarcar no Brasil no dia 6 de julho para participar da cúpula do BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, desde janeiro de 2025, a própria Indonésia como integrante pleno. Além da reunião multilateral, Prabowo também realizará uma visita bilateral, mas sua chegada ocorre em um momento de tensões nas relações entre Brasil e Indonésia, marcadas pela trágica morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, em uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia. O caso gerou uma onda de indignação entre brasileiros, que acusam o governo indonésio de negligência, levantando preocupações sobre possíveis protestos durante a visita do presidente.

O caso Juliana Marins e a revolta brasileira

Juliana Marins, uma publicitária de Niterói (RJ), faleceu após sofrer uma queda de aproximadamente 300 metros durante uma trilha no Monte Rinjani, o segundo maior vulcão da Indonésia, no dia 20 de junho de 2025. Apesar de ter sobrevivido inicialmente à queda, seu corpo só foi localizado e resgatado quatro dias depois, em uma operação que enfrentou dificuldades devido ao mau tempo, terreno instável e equipamentos inadequados, como cordas curtas para o resgate. A demora na operação e a percepção de falhas na condução da trilha, incluindo a separação de Juliana do guia, geraram críticas contundentes no Brasil.

As redes sociais do presidente Prabowo Subianto e da Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Barsanas) foram inundadas por comentários de brasileiros, que acusaram as autoridades de descaso e negligência. Frases como “Quatro dias para ser resgatada” e “Se não tem capacidade de resgate, essa trilha deveria ser proibida” ecoaram em plataformas como Instagram e X, com hashtags como #JusticeForJuliana ganhando força. Alguns internautas chegaram a pedir que Prabowo não comparecesse à cúpula do BRICS, com mensagens como “Espero que vocês não venham ao Brasil” e até ameaças mais graves, refletindo a intensidade da revolta popular.

Impacto nas relações bilaterais

A morte de Juliana Marins ocorre em um momento delicado, quando Brasil e Indonésia buscavam fortalecer laços. A entrada da Indonésia no BRICS, anunciada pelo governo brasileiro em janeiro de 2025, foi celebrada como um marco, com destaque para o país asiático como a maior economia e população do Sudeste Asiático, com 281 milhões de habitantes. A cúpula no Rio de Janeiro seria uma oportunidade para consolidar parcerias, especialmente em iniciativas como a defesa de florestas tropicais, uma prioridade para ambos os países. No entanto, o caso abalou a imagem da Indonésia entre os brasileiros, remetendo a tensões passadas, como a execução de um traficante brasileiro pelo governo indonésio em 2015, que gerou protestos semelhantes.

O governo brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, expressou pesar pela morte de Juliana e cobrou explicações do governo indonésio “no mais alto nível”. Lula afirmou que os serviços diplomáticos e consulares do Brasil na Indonésia prestarão apoio à família da vítima, incluindo o traslado do corpo, embora o Itamaraty tenha esclarecido que não cobre despesas de traslado ou sepultamento. A família de Juliana, por sua vez, anunciou que buscará justiça, alegando negligência por parte da agência de turismo e das autoridades locais.

Receio de protestos e desafios para Prabowo

A revolta nas redes sociais levantou especulações de que Prabowo Subianto poderia reconsiderar sua vinda ao Brasil, temendo manifestações públicas ou uma recepção hostil. Postagens em plataformas como o X sugerem que o presidente indonésio está ciente da indignação dos brasileiros, com alguns usuários afirmando que ele poderia desistir da viagem. Apesar disso, até o momento, não há confirmação oficial de que Prabowo cancelará sua participação na cúpula do BRICS, um evento crucial para a projeção internacional da Indonésia, especialmente sob sua liderança, que busca um papel mais ativo no cenário global, em contraste com a postura mais reservada de seu antecessor, Joko Widodo.

A tragédia também reacendeu debates na Indonésia sobre a segurança em destinos turísticos de alto risco, como o Monte Rinjani, conhecido por seu terreno desafiador e histórico de acidentes, incluindo a morte de um turista malaio em maio de 2025. O ministro das Florestas da Indonésia, Raja Juli Antoni, anunciou uma revisão das normas de segurança no vulcão, mas especialistas locais apontam que a falta de equipamentos adequados e a complexidade do terreno dificultaram o resgate de Juliana.

O que esperar da cúpula do BRICS

A cúpula do BRICS, marcada para 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, já enfrenta desafios adicionais, com as ausências confirmadas dos presidentes da China, Xi Jinping, devido a tensões no Irã, e da Rússia, Vladimir Putin, por temores de um mandado de prisão internacional. Nesse contexto, a presença de Prabowo Subianto ganha ainda mais relevância, mas também maior escrutínio. A pressão dos brasileiros por respostas sobre o caso Juliana Marins pode transformar a visita em um teste para a habilidade diplomática do presidente indonésio, que precisará navegar entre a consolidação de laços com o Brasil e a gestão da crise de imagem desencadeada pela tragédia.

Enquanto a cúpula se aproxima, a memória de Juliana Marins permanece como um lembrete das responsabilidades dos governos e agências turísticas em garantir a segurança de visitantes em atividades de risco. Para o Brasil e a Indonésia, o episódio destaca a necessidade de diálogo e cooperação para evitar que tragédias pessoais se transformem em crises diplomáticas.